
Fiz uma seleção, um cardápio variado e de fácil digestão (não são livros de receitas), a grande maioria encontrado nos sites das livrarias. Nessa primeira leva, dez livros (deliciosamente) cinco estrelas.
1. "Comer é um sentimento" (Senac), do francês Francois Simon, que foi um dos mais temidos e respeitados críticos de restaurantes da França (" Os grandes chefs não gostam de mim"). Um divertido relado de hábitos de comportamentos à mesa
2. "Alho e Safiras" (Objetiva), da americana Ruth Reichl, por anos critica de gastronomia do New York Times. Ruth tem um texto delicioso e, além de reproduzir suas criticas publicadas, conta passagens hilárias de suas incursões pelos mais badalados restaurante de Manhattan. E ainda dá receitas ótimas. Prato cheio. Aliás, qualquer livro da Ruth Reichl é uma delicia.
3. "O homem que comeu de tudo" e "Deve ter sido alguma coisa que eu comi" (Companhia das Letras), dobradinha do Jeffrey Steingarten, um dos meus preferidos. Jeffrey, advogado e glutão, que foi critico de restaurante da Vogue americana, é um dos meus livros prediletos. Jeffrey passa a vida comendo, testando (detestando) e não poupa esforços para isso. Vai ao Japão para comer Kobe, Palermo, sobe ao Etna e conta a origem do sorvete e por aí vai, nos servindo um banquete delicioso. Os dois são imperdíveis.
4. "Um alfabeto para gourmets", da "papisa" e pioneira MFK Fisher (Companhia das Letras). Em tempos em que só homens escreviam sobre restaurantes nos Estados Unidos, a escritora se escondeu atrás dessas iniciais e se tornou o maior nome do jornalismo gastronômico americanos nos primórdios . Na obra, ela vai de A a Z falando de de viagens, crianças, amores, amigos, paisagens, sempre tendo como pano de fundo a comida. É o mais antigo da minha estante.

5. "Eu só queria jantar", Luiz Américo Camargo (CLA Editora), uma coletânea dos melhores textos desse jornalista paulista dono de um texto e humor únicos. Américo virou um exímio "padeiro", com bons livros para incursões nesse universo. Criticas, cronicas e observações sobre comida e restaurantes, ao longo de duas décadas (somos contemporâneos, ele lá, e eu cá).
6. "Adeus aos escargots: ascensão e queda da culinária francesa", do Michael Steinberger (Zahar). Eu adoro esse livro, volta e meia estou garimpando passagens em capitulos que deixei marcados. "Steinberger investiga tudo, desde a pesada burocracia francesa até a onda de culinária criativa que vem da Espanha e Inglaterra, passando pelos chefs celebridades e a tirania do guia Michelin", saiu no Washington Post.
7. ''As revoluções de Ferran Adrià'' (LP&M) do Manfred Lambierdière. Bom revisitar os ares que sopraram forte da Espanha e transformaram a cozinha do mundo: fitas de beterraba com pó de vinagre, ar gelado de parmesão, mola de caramelo de azeite de oliva... Delicioso testemunhar como tudo começou. E chegou aqui.
8. "Um ano na Provence", Peter Mayle (Sextante). Clássico desse publicitário inglês que larga tudo e todos para viver com a mulher na Provence. Livro delicioso, não por acaso, já foi traduzido para 58 idiomas. Durante um ano, Mayle fez um um registro das aventuras em conviver com os "locais", encarar o mistral (vento implacável) e, principalmente, todos os prazeres e deliciais da vida e culinária do Sul da França. O livro completou 30 anos em março do ano passado (falo da obra no meu blog).
9. "Um ganso em Toulouse", Mort Rosenblum (Rocco), correspondente da Associated Press na França, foi editor também do Herald Tribune Internacional. Li dele também Chocolate, um divertido e competente mergulho no mundo do chocolate. Gosto muitíssimo das duas obras. Em "Um ganso", cada capitulo ele aborda um tema, sempre em torno do prato ou do copo: do Château D'Yquen, aos pâes de Poilâne, o fim do Les Halles e a abertura do Rungis, os restaurantes que esbarra no beira da estrada... Uma viagem pelo melhor da França.
10. " Chocolate amargo, autobiografia do Gordon Ramsay" (Best Seller). O relato, em primeiro pessoa, do chef "maldito" ingles, que estourou na televisão à frente do Hells" Kitchen. Gordon na verdade é escocês, é de Glasgow, de família pobre, que teve um relacionamento difícil com o pai ("cozinha não é coisa para homem de verdade"). Interessante entender o que está por trás desse que ainda é um dos grandes nomes da gastronomia inglesa.

Poderia listar mais uns dez, vinte, trinta títulos que harmonizariam bem com esses dias de reclusão. Na próxima, uma rodada de livros sobre vinhos, que passam longe de giros de taças e dos "enochatos", termo cunhado pelo amigo querido e mestre Zehugo Celidônio.